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O fim da música impressa

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O fim da música impressa

Por Andressa Monteiro e Marina Zyrianoff



Pense rápido! Para saber das últimas novidades sobre música, você lê os jornais, as poucas revistas que ainda são vendidas nas bancas ou procura na Internet? Melhor ainda, quantas revistas de música você lembra que existiram no Brasil?Há diversos motivos pelos quais estas publicações não dão certo: crise financeira, mudanças nos hábitos culturais, decisões editorias desastrosas e a chegada dos blogs e outras ferramentas da Internet.

Aqui no Brasil, a revista Bizz foi uma publicação da Editora Abril com grande destaque nas décadas de 80 e 90. Ela nasceu em 1985 e foi cancelada em 2001, retornando às bancas quatro anos depois, para encerrar suas atividades novamente em 2007, após o surgimento da versão brasileira da Rolling Stone. A revista mantem-se viva, mas apenas em edições especiais ou ocasionais.

O mesmo aconteceu com a Revista MTV, criada em 2001. A publicação foi idealizada para ser um mecanismo de divulgação do canal. Em novembro de 2007, a assessoria de imprensa anunciou que a revista seria descontinuada por motivos estratégicos. Após sete anos e 79 edições a revista MTV saiu de circulação.

Atualmente, o mesmo acontece com as revistas estrangeiras. Títulos americanos como a Blender e a Spin foram fechados e até a Rolling Stone passa por dificuldades financeiras. A britânica New Musical Express, além do formato impresso, criou o próprio blog.Para o jornalista Marco Barbosa, o brasileiro não lê. “Ouvir música é fácil e de graça. Ler, mesmo que seja uma revista, dá mais trabalho, custa dinheiro e exige um mínimo de preparo intelectual. A maioria absoluta da população brasileira simplesmente não pode, não quer ou não está disposta a ter este trabalho.”

“Nem todo mundo tem acesso pela Internet ou interesse por sites de música. Alguns são realmente muito bons e confiáveis, mas a imensa maioria é amadorística ou, pior, apenas repete informações coletadas em outros lugares. Ainda há uma geração bem ativa que gosta de colecionar, folhear, ter o material físico nas mãos”, completa Marco Barbosa.

Já para Marco Aurélio Canônico, que escreve para o Blog da Ilustrada, do jornal Folha de S. Paulo e é editor da Folha Teen, nunca existiu uma revista de música segmentada para gêneros populares, e este talvez seja um dos motivos do fracasso desse tipo de publicação. “Se você parar para pensar nos exemplos de revistas musicais que a gente teve no Brasil, todas elas foram segmentadas para outros estilos musicais, como o rock, o indie ou o pop. Por que nunca se investiu em revistas de samba ou de MPB?”, questiona Canônico.

Com tantas mídias surgindo, como a Last FM e o Myspace, a necessidade de ter uma revista diminuiu muito. Para o crítico musical José Flávio Junior, as revistas tinham o papel que as redes sociais exercem atualmente. ”As pessoas não tinham Facebook, Orkut ou Twitter para se informar e pegar dicas musicais. Todas as grandes publicações estão lançando mão das novas mídias para chegar mais rapidamente ao consumidor, que acaba gastando com outras coisas e deixa de comprar revistas.”

Para José Flávio, nenhuma revista é indispensável. “Tudo o que você precisa saber e que está acontecendo no mundo, você encontra nos jornais e livros. A revista é uma forma resumida de você aprender as coisas, de ter a informação de um jeito mais gostoso de ler. As pessoas mudam os hábitos, passam a ter outras prioridades e não sentem a necessidade de folhear as revistas”

Para Marco Aurélio, não é possível afirmar incisivamente que a Internet é 100% culpada pelo fim das revistas de música. “Os benefícios que ela trouxe são infinitamente maiores do que os prejuízos que causou. Tanto o sujeito que escreve sobre música, quanto o que faz música, o que quer lê sobre musica ou o que ouve música, todos estão mais bem servidos pela Internet do que estiveram na época das revistas.”

A questão financeira também é prejudicial. “Gerenciar uma revista não é um trabalho fácil, papel é uma coisa cara. Você precisa ter um plano econômico, uma estratégia de marketing para atrair o anunciante e sustentar a revista.”

O dono do blog Popload, Lúcio Ribeiro, acredita que “no Brasil nunca se precisou do jornalismo musical para isso, até porque nunca existiu uma cultura de música decente, a não ser em guetos.”

O NOVO ESTÁ CHEGANDO

Em um mundo de novas tecnologias, as pessoas querem saber das informações em uma velocidade rápida, direta e curta. É o caso do Twitter.Para Marco Aurélio Canônico, o microblog é uma boa ferramenta e está ficando cada vez mais popular. “Todo meio de comunicação que surge na Internet, funciona. Isso é um indicativo de que eles têm algo bom e são coisas para serem divulgadas.”

José Flávio tem uma opinião um pouco diferente. “Twitter é o blog do analfabeto. Só serve pra quem não sabe escrever. Como alguém pode resumir as coisas que sente em apenas 140 caracteres?”.Outro exemplo citado por ele são as manchetes dos jornais. “Elas geralmente são a parte mais deficitária de um jornal e de uma revista. Você não consegue expressar a totalidade da sua matéria apenas no título.”Há quem invista no meio impresso considerando que ainda há uma fatia de mercado a ser conquistada.

È o caso das revistas Migmax, de música eletrônica, e a Billboard, que serão lançadas no Brasil ainda este ano.“As pessoas vão comprar uma revista como a Billboard pela marca, mas não quer dizer que ela será estimulante. Não dá para saber direito qual será o resultado dela em termos de venda e até de qualidade”, finaliza José Flávio.

VOCÊ ABRIRIA UMA REVISTA DE MÚSICA?

Perguntamos aos jornalistas Lúcio Ribeiro, José Flávio Junior, Marco Aurélio Canônico o que eles acham sobre o assunto.

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
“Se eu tivesse que abrir seria pela Internet, porque os custos são muito menores e a facilidade é muito maior. Na internet basicamente você junta meia dúzia de pessoas e monta um site bacana. Já em uma revista, você precisa de uma grande estrutura comercial e gráfica, além de envolver toda uma parte de burocracia e impostos”,

JOSÉ FLÁVIO JUNIOR
“Só se eu ganhasse na Mega Sena e estivesse afim de perder um dinheiro e dar um salário para os caras que eu gosto e que escrevem sobre musica. O Brasil tem má distribuição dos exemplares. Ela irá vender pouco e não irá alcançar todas as bancas. Uma revista de musica nunca vai vender tanto quanto a Veja.”

LUCIO RIBEIRO

“Aqui não temos uma indústria de música. Existem gravadoras, rádios, lançamentos de discos, bandas, mas não há uma indústria musical. Ou se tem uma idéia razoavelmente boa para uma revista de música ou se está fadado a ir pelo sonho, pela garra de uma coisa que não faz parte de uma cultura musical.”

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